segunda-feira, 3 de março de 2008

Carteiro perde bolsa do ProUni por atraso na correspondência

O atraso de dois dias na entrega de uma correspondência do Ministério da Educação (MEC) para o gaúcho Rudimar da Cruz Machado, de 34 anos, fez desabar os planos dele em conseguir cursar direito em uma faculdade particular em Rio Grande, no interior do Rio Grande do Sul.

A correspondência informando que Machado tinha conseguido 50% de bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni ) foi entregue depois do prazo final de inscrição. Ironicamente, Machado é carteiro.

Como forma de protesto por ter perdido a bolsa de estudos, no sábado (1º) pela manhã Machado acorrentou o pé esquerdo e ficou em frente à agência dos Correios de Rio Grande (onde é funcionário) até esta segunda-feira (3) às 6h30, pois às 7h ele entraria em serviço. Ele montou uma barraca e se alimentou com ajuda da mãe, da esposa e de amigos.

Carta foi postada no dia 13 de fevereiro

Segundo Machado, o MEC postou a carta no dia 13 de fevereiro informando que ele havia sido pré-selecionado em segunda chamada para receber uma bolsa de estudos de 50% no curso de direito das Faculdades Anhanguera, na unidade de Rio Grande.

O prazo para que ele confirmasse seus dados na instituição - para conseguir definitivamente a bolsa de estudos do programa do Governo federal - venceria no dia 27 de fevereiro, 15 dias após a postagem. O problema é que Machado recebeu a correspondência somente na sexta-feira (29), dois dias depois do fim do prazo para comprovar os dados na faculdade.

"Alguém tem que responder por esse erro que não é meu. Há quatro anos eu tento passar em uma universidade pública e não consigo porque só estudo em casa, pois não tenho como pagar um cursinho. Fiz a prova do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], me inscrevi no ProUni, passei e agora por culpa de alguém eu perdi o direito. Isso não é justo", disse Machado.

Machado é casado e tem uma filha. Ele mora em um bairro simples e não tem acesso à internet em casa. Como trabalha o dia todo na rua, quase não tem tempo de consultar a web. Segundo ele, a renda mensal familiar é de R$ 1.000 e a bolsa é fundamental para que ele possa realizar o sonho de fazer faculdade.

Protesto como cidadão

O carteiro fez questão de deixar claro que está protestando como cidadão e não como carteiro. "Não tenho como separar o carteiro do cidadão. O fato de eu ser carteiro é apenas uma coincidência", disse Machado, que trabalha nos Correios há um ano e meio e afirmou que teme perder o emprego por causa do manifesto.

Firme em seus objetivos, Machado afirmou que enquanto aguarda uma definição continuará trabalhando normalmente das 7h às 16h e fará o protesto depois do expediente até que a situação seja resolvida. Ele disse que pretende entrar com uma ação judicial para encontrar os responsáveis pelo atraso.

"Estou indignado e quero a minha bolsa de estudos. Não estou pedindo favor para ninguém, apenas quero meu direito. O cidadão tem que ter voz para reclamar", disse.

O que diz a faculdade

Segundo a assessoria de imprensa das Faculdades Anhanguera, a instituição também está com problemas na entrega de correspondências para alunos - eles não estão recebendo os boletos com as mensalidades - o que pode reforçar que há algum problema com as entregas de correspondências em Rio Grande. A faculdade, no entanto, diz estar impotente para resolver o problema do carteiro Machado porque ela depende dos prazos pré-determinados pelo MEC, que tem um calendário nacional para o ProUni.

O que diz o MEC

A assessoria de imprensa da Secretaria da Educação Superior do MEC informou que a portaria que regulamenta o ProUni explica que é responsabilidade dos candidatos pré-selecionados em primeira, segunda ou terceira chamadas acompanhar os prazos estabelecidos na portaria e suas eventuais alterações. Para isso, ele pode usar o endereço do ProUni na internet ou o telefone 0800-616161. Ainda segundo a assessoria, a carta é apenas mais um documento para conferência e não poderá abrir exceções.

O que dizem os Correios

A assessoria de imprensa dos Correios foi procurada pela reportagem do G1 às 15h para que a empresa se posicionasse sobre a questão. Em nota enviada às 17h19, os Correios informam que "considerando que a entrega de correspondências está em dia naquela localidade, estamos tomando as providências administrativas necessárias à apuração da alegação de atraso na entrega da correspondência destinada ao Sr. Rudimar".

Os Correios não explicam quais são essas providências administrativas e não responderam os outros questionamentos da reportagem, entre eles qual o tempo médio de entrega de uma correspondência, qual a posição da empresa com relação ao manifesto do cidadão e se houve algum problema na entrega, já que a faculdade também reclamou de atrasos.

Procurada novamente pelo G1, a assessoria de imprensa informou que não tinha mais o que acrescentar porque já havia terminado o horário do expediente.


Fonte Original da Informação:

http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL335249-5604,00.html